Na primeira vez em que fizemos bolhinhas de sabão, Cecília assustou. Era uma máquina a pilhas, dezenas de bolinhas por segundo, música, um susto. Não foi divertido como eu pensei que seria.
Eu guardo com carinho uma foto do dia em que sai da maternidade. Estou no banco de trás do carro, com aquele bebezinho no colo, todo enrolado numa mantinha vermelha. Meu olhar atravessa o vidro da janela e se perde em algum ponto de paisagem de Brasília. Uma árvore ou um monumento lá longe. A alça do vestido caída, o cabelo desgrenhado, olheiras.
Para algumas coisas, a vida nunca vai nos prepara.
Na segunda vez, as bolhinhas de sabão apareceram de surpresa, pelas mãos do vendedor de brinquedos, numa festa de rua.
Cecília assustou outra vez. Depois, olhou com curiosidade. Por fim, entendeu que não fazem mal. As bolinhas voam pelos ares, pousam na nossa pele e desaparecem. Ela riu, quis pegar, correu atrás, estourou.
Eu ri.
Naquela noite, choveu e nós brincamos na chuva. Ela pulou em poças d’água, com os passinhos ainda cambaleantes. Eu ri, pulei junto, tirei fotos.
Assim como ela – essa criança espantada diante da surpresa leve, encantadora e frágil – também eu não me assusto mais.
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Este texto é de 2024. O compromisso é publicar por aqui, pelo menos, uma vez por mês. Não prometo, mas farei o meu melhor.
que texto lindo, Carolina!
😍💜🫧✨